Diario de Viagem — #06 — Paris

Madrugada de quinta-feira, 04 de setembro de 2014

Gabriel Guandalini
Folha em Branco

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Tendo perdido minha caneta logo que cheguei a Paris, não pude registrar minhas impressões conforme elas surgiram ou fui vivendo. Espero que a memória não me falhe.

A primeira impressão de Paris não foi generosa. Sem conhecer o suficiente, o hostel que reservei ficava em um bairro pobre, sujo e com um aspecto perigoso. O hostel também deixava muito a desejar. Apesar de perto de uma estação de metrô, era sujo e completamente desorganizado perto dos outros que ficamos. Pelo menos tínhamos um quarto separado, o que amenizou as coisas. Entretanto, tivemos que dividir a cama de casal, o que fizemos sem grandes constrangimentos. Com o passar dos dias, a mágica de Paris fez efeito e eu já não me importava muito com o lugar.

A cidade merece a fama que possui. Ela é simplesmente maravilhosa. Embora tenha seu lado obscuro, Paris é linda e encantadora. Andar por suas ruas repletas de história, por onde andaram tantos personagens famosos, homens que mudaram o mundo com suas ações. A cidade iluminada atrai mentes iluminadas. Eu a adorei em seu grande esplendor. Contudo, seus habitantes produzem certo asco. Os parisienses não merecem a fama de charmosos que têm, pois são, em geral, mal-educados, mal-humorados e rudes. Além de alguns federem muito. Se Paris fosse habitada pelos simpáticos holandeses seria muito melhor.

De qualquer maneira, a cidade é impressionante. O metrô, apesar de decrépito, é totalmente eficiente e leva a qualquer lugar com relativa facilidade. Entretanto, andar por ruas tão belas é um atrativo muito delicioso. Não há como não se impressionar ao passear pela Quartier Latin, nos arredores da prestigiosa Sorbonne, em meio aos famosos e charmosos cafés parisienses. Há algo no ar nesses locais que inspira uma sensação elevada. Outra avenida que merece o passeio é a linda Champs-Elyseé, com suas grifes e boutiques caras. Mas, além dessas, passei por muitas outras ruas anônimas que me impressionaram. As margens do Sena e a Ponte do Amor em especial são deveras belas. Nessa ponte, coloquei um cadeado para e para Ana, um presente para ela que sempre quis isso. Ela ficou muito feliz ao saber.

Paris também possui muitas praças e monumentos dignos de nota. O mais bonito com certeza é o Jardim de Luxemburgo, perto do Quartier Latin. Belíssimas flores e um excelente local para descanso. Se voltar a Paris, perto dele é que quero ficar. Há ainda a praça da Bastilha e da Concórdia, ligadas à Revolução Francesa e muito importantes. Gostei de ter ido ao cemitério de Pere Lechaise, famoso lugar de descanso para muitos grandes nomes, porque visitei o túmulo de Chopin, La Fontaine e Oscar Wilde. Pude prestigiar outros grandes homens do passado ao visitar o Panteão, que guarda o túmulo de Victor Hugo e Alexandre Dumas, Voltaire e Rousseau, entre outros, e a tumba de Napoleão. Prestei minha homenagem silenciosa a todos esses grandes nomes que marcaram a história.

Paris é também feita de palácios e igrejas. Dos primeiros, impressionam o Petit e o Grand Palais, harmoniosos se encarando, além do simpático Palácio de Luxemburgo e o enorme Palais Garnier, hoje uma escola de música. Ainda resta muito do luxo do tempo de ouro da França. Não entra nessa classificação, mas o Hotel des Invalides é impressionante com sua cúpula dourada. Das igrejas, Notre Dame é imponente, mas a Sacré-Couer é muito mais bela e oferece uma vista de toda a cidade.

Paris tem muitos museus, mas é o Louvre que domina toda a cena. Magnífico por si só, o antigo palácio tem um dos maiores acervos do mundo e, mesmo caminhando por seis horas lá dentro, não esgotamos metade do que ele oferece. Há muitas obras de arte inestimáveis em seu interior, incluindo a lendária Mona Lisa. Há muita coisa bela lá. Fiquei só nas áreas grega, egípcia e renascentista e já me impressionei muito. Acabei passando rapidamente por outros museus como o de História Natural e o de feitos militares da Escola Militar. Eles não chegam nem perto do tamanho do Louvre, mesmo sendo grandes.

As grandes atrações de Paris realmente são aquelas que são mais famosas: o Arco do Triunfo e a Torre Eiffel. Não adianta discordar e fugir desses dois cartões postais. Eles são os mais lindos em toda a cidade. O Arco traz tanta grandeza em sua construção e homenagem aos soldados franceses. Suas estátuas e ornamentos são muito belos e imponentes. A Torre, avistada mesmo de longe, se assoma gloriosa contra o céu e é um lembrete do que o homem pode fazer. Ela é impressionante. Me senti impelido ao seu topo, mas só cheguei à metade porque o resto estava interditado. Foi um grande azar, mas a vista é impressionante de qualquer forma. Esperar pelo anoitecer aos pés da Torre compensa: ela é milhares de vezes mais bela iluminada contra o céu noturno.

Embora tenha adorado Paris, o que mais gostei fica fora da cidade: o Palácio de Versailles. Embora seja longe, a visita valeu muito a pena. É com certeza o lugar mais belo e mais importante na história do mundo que visitamos. O legado de Luís XIV, o Rei Sol, está bem preservado no luxo do palácio e todo o local é impregnado pelo ouro da história. Fora do palácio em si, os jardins são muito bonitos e produzem uma serenidade dificilmente encontrada em outros lugares. Como foi divertido e proveitoso me perder no meio daqueles jardins floridos imaginando-me nos tempos do Antigo Regime. Uma delícia de passeio que eu repetiria sempre.

Conheci tudo em Paris a que havia me proposto e mesmo assim sei que não vi tudo de belo que existe nesse lugar. Essa é uma cidade digna de se apaixonar por e voltar muitas vezes. E de novo e de novo. Como adorei Paris!

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Originalmente publicado no site www.folhaembranco.com.br em 4 de Novembro, 2015.

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Desde pequeno apaixonado por literatura, abraçou o sonho de se tornar escritor.